
Ministério da Agricultura apresentará projeto para ampliar cobertura da internet na área rural
Por Rafael Walendorff — Brasília
A ampliação da cobertura por internet no campo pode aumentar o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária brasileira em quase 10% ao ano e gerar R$ 100 bilhões adicionais aos produtores, de acordo com dados apresentados pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) em evento realizado na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), nesta quinta-feira (26/10).
Atualmente, apenas 30% das propriedades rurais brasileiras estão conectadas via satélite, rádio, 3G ou 4G. Se essa cobertura chegar a 48%, o incremento no VBP, estimado em mais de R$ 1 trilhão, pode chegar a 4,5%. Com 90% do campo com acesso à internet, o faturamento deve crescer 9,5%, segundo as projeções apresentadas.
Pedro Estevão, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos Agrícolas da Abimaq, disse que a falta de cobertura limita o acesso dos produtores a maquinários mais tecnológicos já existentes no mercado e que proporcionam maior eficiência na produção. Segundo ele, a pulverização de defensivos agrícolas feita sem nenhum tipo de tecnologia gera desperdício de 10% a 15% do produto. Com a aplicação de automação, por exemplo, essa perda cai para 2%.
“Estamos aqui para melhorar a competitividade do agro brasileiro. As máquinas atuais têm conexão com a internet, à medida que trabalha ela capta dados da produção e do meio ambiente, consegue melhorar a gestão das fazendas com esses dados. Essa é a grande mudança que temos nas máquinas”, disse no evento. “A diferença de tecnologia entre a máquina que tem conexão e a que não tem é brutal”.
Ampliação de cobertura
A secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Renata Miranda, afirmou que a Pasta vai apresentar um novo projeto ao conselho gestor do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicação (Fust) para ampliar a cobertura de internet nas áreas rurais.
A proposta do Ministério da Agricultura é criar o programa Torres Rurais, que prevê a instalação de 125 novas torres e a revitalização de outras 550. O projeto também quer fazer um upgrade para a tecnologia 4G em 3,2 mil torres espalhadas pelo país. Segundo Miranda, o objetivo é ampliar, com essa medida, de 30% para 48% a área rural do país conectada.
“A proposta é que na próxima reunião do Fust, que já é na semana que vem, vamos apresentar o projeto Torres Rurais que visa chegar nessa amplitude de cobertura de 48%”, disse em evento sobre conectividade rural na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
A secretária citou que o Fust tem R$ 400 milhões disponíveis por ano para aplicações não reembolsáveis e que podem ser usados nesse tipo de ação. “Quando falamos de internet para pequenas localidades e povoados precisamos falar de mais tecnologias, não apenas fibra, 4G ou 5G. Tem que ter acesso a tecnologias mais baratas para que as pequenas operadoras tenham interesse comercial e levem essa tecnologia. Para as outras grandes áreas e grandes produtores temos que falar das torres”, completou
Em setembro, os ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento e Assistência Social lançaram o programa Rural + Conectado. O foco são 2,3 mil localidades rurais espalhadas pelo Nordeste do país e alguns pontos da região Norte.
O programa conta com uma linha de crédito reembolsável para empresas de telecomunicações instalarem infraestrutura de rede nessas comunidades mais remotas. A iniciativa tem juros subsidiados e prazo de 15 anos para pagamento. São até R$ 1,2 bilhões que podem ser acessados com alíquota de 1% mais Taxa Referencial e risco para esses locais prioritários.
Renata Miranda disse que o programa pode levar cobertura para 19 milhões de pessoas que vivem nessas regiões.
O presidente da CNA, João Martins, disse que a expansão da conectividade gera efeitos positivos na segurança nas áreas rurais, no acesso à educação e facilita o processo de sucessão familiar nas propriedades. “O conjunto desses fatores torna mais precisa a tomada de decisão dos produtores, que têm a necessidade de trabalhar com mais eficiência. É preciso levar internet não apenas à sede das propriedades e moradias dos trabalhadores, mas às áreas de produção e estradas de acesso”, disse no evento.
Moisés Savian, secretário de Governança Fundiária, Desenvolvimento Territorial e Socioambiental do Ministério do Desenvolvimento Agrário, disse que a conectividade pode diminuir a distância tecnológica entre as populações urbana e rural e melhorar o acesso dos produtores rurais a informações técnicas.
“Muitos jovens deixavam o campo por não ter oportunidade de acessar a educação. Hoje, com a internet, eles têm a possibilidade de permanecer no campo, continuar desenvolvendo atividade familiar”, disse. “A distância tecnológica entre a realidade dos centros de pesquisa, das universidades, da Embrapa e das propriedades da agricultura familiar é muito grande, e o desenvolvimento da conectividade pode contribuir com isso.
As empresas de assistência técnica e extensão rural eram a única fonte de informação dos produtores na década de 1970. Hoje, o agricultor é pesquisador, testa tecnologias, busca informação, acessa internet, está envolvido com ambiente tecnológico. Essa distância da conectividade rural, onde 30% das propriedades estão conectadas enquanto 92% dos domicílios urbanos têm conexão com a internet, é um caminho longo a percorrer”, completou.