
José Velloso vê tendência de as partes fazerem um acordo; setor do aço teme que o estresse político entre Brasil e EUA prejudique a negociação que estava em curso específica para o metal
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entidade que representa a indústria de máquinas e equipamentos, confia na reversão da tarifa de 50% anunciada por Donald Trump a produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. Já o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, teme que o estresse político entre Brasil e EUA prejudique a negociação que estava em curso por cotas para livrar o Brasil da tarifa específica para o aço (leia mais abaixo).
Segundo o presidente executivo da Abimaq, José Velloso, levar a medida adiante significa decretar o fim do comércio entre os países, o que não faz sentido estratégico na guerra comercial travada pelos EUA com a China.
Assim, a tendência, acredita Velloso, é de as partes negociarem um acordo, de forma que, apesar do susto com a elevação tarifária, as empresas não estão desesperadas. “A expectativa é de negociação porque não tem como aplicar uma tarifa de 50%. É como dizer ‘está proibido fazer negócio com o Brasil’, já que obriga o Brasil a aplicar a reciprocidade”, diz Velloso.
Os Estados Unidos são o principal destino das exportações das máquinas e equipamentos produzidos no Brasil. No ano passado, os embarques foram da ordem de US$ 3,5 bilhões. Porém, as empresas brasileiras trazem um número ainda maior de máquinas dos EUA: US$ 4,7 bilhões.
A avaliação da Abimaq é a de que não há justificativa para a imposição de tarifas adicionais se o comércio bilateral é vantajoso para os Estados Unidos. Quando se somam todos os produtos da pauta, o Brasil teve mais de US$ 88 bilhões em déficit comercial com os Estados Unidos nos últimos 16 anos.
Na avaliação de Velloso, não bastasse o atrito com um país a quem os EUA mais vendem do que compram, a tarifa contra o Brasil, a maior até aqui do “tarifaço” de Trump, tem o efeito colateral de favorecer a competitividade dos produtos chineses no mercado americano. Nesse sentido, avalia, a medida não tem lógica dentro do objetivo do presidente americano de reverter o déficit comercial com os chineses. “Não faz sentido.”
“Por enquanto, não bateu o desespero nas empresas. Existe uma preocupação, mas não um estado de ebulição por causa do entendimento de que a tarifa não é factível e deve ser revista”, acrescenta Velloso.
Na indústria siderúrgica, o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo, afirma que a expectativa é de que a nova tarifa não será cumulativa à taxa de 50% que já era aplicada sobre o produto desde o mês passado. Se for assim, nada muda em relação ao quadro atual, no qual todos os países, exceção ao Reino Unido, sofrem a mesma barreira, por se tratar de uma tarifa específica a aço e alumínio.
Em relação a outros setores industriais que participam da Coalizão Indústria, onde é coordenador, Marco Polo conta que o sentimento é o pior possível, já que a elevação tarifária de 10% para 50% gera a todos um problema gigantesco. “Todos esperam que o Brasil tenha serenidade para voltar aos canais diplomáticos de negociação”, comenta o executivo.