
Juros altos, incertezas na economia e produção fraca na indústria seguram segmento, afetando capacidade do país de crescer a taxas mais altas
A combinação de juros altos, incertezas ainda existentes no cenário econômico e produção fraca na indústria de transformação tem afetado o setor de máquinas e equipamentos, que passa por um quadro negativo. É um sinal preocupante para o investimento, o único componente do PIB pelo lado da demanda que recuou no segundo semestre em relação ao mesmo período do ano passado, caindo 2,6%.
Economistas alertam para a gravidade do desempenho da chamada formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação), termômetro do potencial de crescimento da economia. Os resultados ruins continuaram no terceiro trimestre, como mostram número do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
No bimestre julho/agosto, a absorção de máquinas e equipamentos (produção local mais importação, excluindo a exportação desses bens) caiu 13,3% em relação aos mesmos meses de 2022, com base em números da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). “Vemos a produção de bens de capital muito aquém do que foi no ano passado. O mesmo vale para a importação desses bens”, diz Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre. “A absorção de máquinas e equipamentos muito negativa no início do terceiro trimestre traça um cenário bastante ruim para o investimento.”
Para o FGV Ibre, a expectativa é de contração do investimento em 2023, de 0,9%, mesmo com um desempenho melhor da construção civil. Para Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o período sem dinamismo do setor se deve a “distorções da economia brasileira”, como entraves tributários e logísticos que afetam a cadeia produtiva, e os juros altos, que atrapalham o investimento no curto prazo. No segundo trimestre, a taxa de investimento ficou em 17,2% do PIB, abaixo dos 18,3% do PIB no mesmo período de 2022. É um número muito abaixo de países como México e Chile, que investiram 21,6% e 25,4% do PIB no ano passado, segundo números do FMI.
FONTE: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/10/06/importacao-de-maquinas-e-equipamentos-ja-preocupa-industria.ghtml